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quinta-feira, 28 de março de 2013

O significado da Pascoa



A Última Ceia do artista italiano Leonardo da Vinci

A Páscoa é um período de celebração muito importante para duas religiões: a judaica e a cristã. Para ambas, significa uma época de reflexão e de alegria. Apesar de várias coincidências numéricas e simbólicas, a motivação das duas festas é bem diferente. O Pessach dos judeus celebra o fim da escravidão no Egito e seu nascimento como povo. A Páscoa cristã celebra a ressurreição de Jesus Cristo.  A Páscoa (palavra que deriva do hebraico pessach – passar, saltar) celebra a ressurreição de Jesus Cristo, três dias depois de ter morrido na cruz. É a principal e uma das mais antigas festas do calendário cristão.
O dia de Páscoa é móvel – não tem data fixa no calendário. Coincide sempre com o primeiro domingo após a primeira Lua Cheia em seguida ao equinócio de março – a primeira Lua Cheia do outono.

A Páscoa judaica (Pessach)

O dia 15 de Nissan (primeiro mês no calendário judaico) marca a libertação dos judeus do Egito. É a data de formação do povo judeu, os 'Filhos de Israel', como diz a Bíblia. As comemorações começam nesse dia, no final da tarde, quando os judeus se reúnem na sinagoga para orações e depois realizam outra cerimônia em casa – a ceia do Pessach.

A Páscoa cristã

Sua origem está relacionada ao dia 14 do mês de Nissan do ano judaico de 2248 (cerca de 1300 a.C.). No nosso calendário gregoriano, o mês de Nissan ocorre entre março e abril.
Essa data marca a fuga do povo hebreu do Egito depois de 400 anos de escravidão. Liderados por Moisés, os hebreus conseguiram sobreviver à décima praga em que todos os primogênitos foram mortos por castigo de Deus. Eles haviam marcado o batente da porta de suas casas com o sangue de um cordeiro imolado (sacrificado em ritual). Esse era o sinal dado por Deus a Moisés para que o anjo da destruição passasse (pessach) pela casa dos judeus sem lhes fazer mal. No dia 15 de Nissan, os judeus estavam livres. A partir desse dia, todos os anos eles lembram a data de sua libertação comemorando o Pessach.

Já no ano 34 d.C., no mesmo dia 15 do mês judaico de Nissan, quando todos os judeus celebravam mais um Pessach, Jesus Cristo, morto na cruz três dias antes, ressuscitou. A partir desse dia, todos os anos os cristãos lembram a data da ressurreição de Cristo comemorando a Páscoa.

Quaresma
A comemoração da Páscoa, na realidade, começa 40 dias antes do Domingo de Páscoa. Tradicionalmente, a Quaresma é um período de penitência e purificação com orações e jejum, em preparação para a celebração da ressurreição de Cristo. Essa tradição de passar por um período de purificação está presente tanto na tradição judaica quanto na cristã: o jejum foi realizado por Moisés, pelo profeta Elias e por Jesus Cristo.

A Igreja Católica extinguiu em 1966 a exigência do jejum – que só continua obrigatório na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa –, mas continua incentivando a solidariedade com os pobres. No Brasil, desde 1964, a Igreja promove na Quaresma a Campanha da Fraternidade, que pretende atacar um problema social com a participação direta de toda a sociedade.

Até o século VII, a Quaresma começava no Domingo da Quadragésima (quadragesima dies), o quadragésimo dia antes da Páscoa. Contando com os domingos, durante os quais o jejum era interrompido, o número de dias até a Páscoa era inferior a 40.

Para manter a fidelidade ao simbolismo do número 40 (como afirma a Bíblia, 40 anos do povo judeu no deserto, 40 dias de jejum de Cristo), a Igreja antecipou o começo da Quaresma para a quarta-feira anterior ao Domingo da Quadragésima: Dia das Cinzas ou Quarta-Feira de Cinzas. Explica-se o porquê das cinzas: os primeiros cristãos costumavam passar cinzas na cabeça em sinal de humildade e respeito a Deus.

Semana Santa

A semana que precede a Páscoa cristã é chamada Semana Santa, por ser a preparação mais próxima da maior comemoração do cristianismo. Ela começa com o Domingo de Ramos e termina no Sábado de Aleluia, que antecede o dia de Páscoa.


Domingo de Ramos – Os sacerdotes benzem ramos de oliveira ou de palmeira e leem o texto evangélico da entrada solene de Jesus em Jerusalém. Esse ramo bento é colocado em uma cruz em cada lar ou sobre algum túmulo no cemitério. Simboliza a força da vida e a esperança da ressurreição. Nesse dia, a Igreja convida os fiéis a contemplar os padecimentos de Cristo em seu caminho para o calvário.

Ceia do Senhor – Na quinta-feira seguinte ao Domingo de Ramos celebra-se a Ceia do Senhor, ou seja, a instituição da missa com a tradicional cerimônia do Lava-Pés. Lê-se o relato da Paixão e realizam-se as procissões da Via Sacra ou Caminho da Cruz, com suas 15 estações (outra coincidência numérica com o Seder do Pessach judeu, que tem 15 etapas). No final da cerimônia, oferece-se a comunhão eucarística.


Sexta- Feira Santa – Nesse dia, também chamado Sexta-Feira da Paixão e Sexta-Feira Maior, ocorre à tarde a Celebração da Palavra, que não é uma missa, mas um ritual litúrgico em que se reflete sobre o significado da cruz, da dor e do sofrimento de Cristo pelos seres humanos. É o único dia da Semana Santa em que o jejum continua obrigatório para os cristãos.

Sábado de Aleluia – Ao meio-dia desse sábado, em alguns países da Europa e da América Latina, costuma-se 'malhar o Judas', ou seja, bater em um boneco de pano que representa o apóstolo traidor de Cristo, Judas Iscariotes, e depois queimá-lo. No mesmo sábado ocorre a Vigília Pascal, que começa com o acendimento e a bênção de uma fogueira ao lado da igreja. O fogo representa a luz, a iluminação que Cristo traz ao mundo. Depois, o círio pascoal (grande vela de cera) é aceso e levado em procissão pelas ruas. Na volta à igreja, os fiéis passam pelo rito da água – elemento que dá vida e renova todos os seres. A água é benzida e aspergida sobre a cabeça dos presentes. Em seguida, ocorre a Proclamação da Aleluia, um canto bíblico de alegria. É o anúncio da ressurreição de Cristo.

Domingo de Páscoa – No domingo, geralmente de manhã, as igrejas cristãs celebram a missa de Páscoa, que marca a ressurreição de Cristo três dias após a sua crucificação. Em várias cidades do Brasil são realizadas procissões de fiéis e religiosos, pelas ruas atapetadas com serragem, sementes e flores, formando motivos coloridos.

Ovos de Páscoa

Coelhos e ovos pintados por húngaros: símbolos da Páscoa cristã

Em todo o mundo cristão costuma-se dar ovos de chocolate no dia de Páscoa. Em alguns países do Leste europeu – Polônia, Ucrânia, Rússia, Hungria e outros –, segue-se a tradição de pintar artisticamente os ovos de várias aves, com motivos alegres e multicoloridos.

O ovo simboliza a vida que está a ponto de surgir, a ressurreição do que estava morto e o eterno ciclo de vida e morte no universo.

A tradição medieval proibia o povo de comer carne vermelha, doces e ovos na Quaresma. Os ovos de Páscoa são, portanto, também um símbolo festivo do final da quarentena de regime.

Os ovos ganharam tanta importância que a eles foram atribuídos poderes especiais. Eram tomados ovos que foram postos durante a Semana Santa, especialmente os da Sexta-Feira da Paixão, pois se acreditava que protegiam contra febres malignas ou pestes mortíferas.

A Igreja Católica, porém, afirma que os ovos não têm nenhuma relação com os acontecimentos da vida de Cristo, nem com a celebração da Páscoa, sejam eles de galinha, sejam de chocolate.

Os coelhos

Os coelhos são outro símbolo constante da Páscoa cristã. Representam a fecundidade, a exuberância e a reprodução da vida, pois são muito férteis. Símbolos de vida e vigor, o coelho e o ovo acabaram se confundindo, a ponto de se achar que os coelhos botam ovos.    

Tradição e comércio

A Páscoa começou a perder o caráter eminentemente religioso há cerca de dois séculos, com o avanço do capitalismo e o crescimento da importância do comércio na sociedade ocidental. Hoje, nas cidades que mantêm a tradição religiosa, a Páscoa é um grande festejo popular e, principalmente nas grandes cidades, mais um bom motivo para as famílias se reunirem. E comprarem para a criançada, quase como obrigação, os ovos de chocolate.

Os ovos em embalagens finas tornaram-se muito mais uma guloseima do que um símbolo tradicional da continuidade e do ciclo da vida, como é o ovo de verdade para os judeus no Pessach.

quinta-feira, 21 de março de 2013

A aparição do demônio na fábrica, no meio da produção.



“José de Souza Martins”

Em seu artigo A aparição do demônio na fábrica, no meio da produção, editado em Novembro de 1994, esse texto foi sugerido pela professora Luci Praun e a Priscila Kijuchi como uma reflexão sobre o que aprendemos no dia 28 de Fevereiro na UMESP – Rudge Ramos na Aula Magna, onde o Sociólogo José de Souza Martins esteve ministrando para nós discentes de Ciências Sociais, foi excelente poder ouvi-lo assim como em várias outras vezes onde a coordenação do curso tem preparado essas aulas Magnas com outros palestrantes onde temos aprendido muito.

A proposta que fora colocado para nós é que identifiquemos “A relação entre a experiência pessoal e as relações de trabalho que permeiam o ambiente no qual o autor elabora a pesquisa”.

Queremos dividir em duas partes, a primeira é sobre a experiência pessoal, conforme Martins “... Depois que me tornei sociólogo e professor universitário, pensei em registrar o que havia testemunhado e fazer um pequeno estudo sobre aquela ocorrência. Justamente a sua raridade permite um melhor conhecimento do que é o trabalho e a experiência do trabalho na concepção do próprio trabalhador”.

Pensamos que essa experiência que Martins passou com certeza, serviu de no primeiro momento de aprendizagem e depois objeto de estudo para esclarecer hoje alguns fenômenos sociais. Conforme diz, “... fato de que na sua relação com a fábrica, enquanto objeto de estudo...”.

Portanto percebemos que nesse artigo Martins realmente volta no tempo para resgatar alguns valores ainda quando era operário, conforme diz ele, “Em face dessa circunstância incomum, procurei cercar-me de garantias de que essa reconstituição seria feita com objetividade. Quando tomei a decisão de fazer este estudo, redigi um extenso texto registrando o mais minuciosamente possível todas as lembranças que tinha da ocorrência e de suas circunstâncias. Rememorei, também, e anotei detalhadamente todos os momentos do processo de trabalho, desde a chegada do barro das jazidas até a saída dos produtos da empresa. Depois disso, procurei localizar antigos empregados da fábrica para recolher deles referências igualmente minuciosas a respeito do mesmo assunto e a respeito da aparição do demônio. De modo que minhas próprias anotações pudessem ser conferidas e confrontadas com as lembranças que tinham. Entrevistei demoradamente dois engenheiros diretamente envolvidos nos acontecimentos, o antigo chefe da seção do pessoal, o antigo mestre da seção de ladrilhos e o padre que foi chamado para celebrar a missa e benzer as novas seções e as operárias. Várias testemunhas importantes já haviam falecido quando decidi fazer esta reconstituição. Entre elas, o mestre e a contra-mestre da própria seção de escolha de ladrilhos”. Com essa postura o sociólogo precisa ir a campo para dar veracidade daquilo que vai apresentar isso serve de lição prática para nós e não nos conformarmos em ficar somente na teoria quando se trata de fenômenos como esse, muito bom isso!!!
Para destacar aqui a experiência pessoal percebemos no texto que Martins se lembra do seu primeiro emprego, isto, é sua função nessa fábrica quando diz, “Minha reconstituição de memória dos fatos, das circunstâncias, dos equipamentos e dos procedimentos adotados na produção na Divisão de Terra Cota foi completa e detalhada. De modo geral, as entrevistas me mostraram que guardei melhor e mais completa lembrança do acontecido do que os mestres e engenheiros, com exceção do próprio diretor da Divisão de Terra Cota, com quem eu trabalhara diretamente e de quem eu fora office-boy”. 

Interessante que na sua pesquisa de campo quando está entrevistando um dos engenheiros, este não se lembra de Martins, mas sim que “havia no escritório um menino que levava papéis do diretor da divisão para um dos diretores da empresa”.
Martins segue sua volta ao tempo para trazer elementos para esse artigo, apesar de, “O trabalho que eu fazia era irrelevante e não tinha a menor visibilidade no conjunto das complicadas atividades do escritório de engenharia em que eu trabalhava. Localizado no centro do conjunto de edifícios da Divisão de Terra Cota, era o lugar da atividade intelectual que regulava toda a produção daquele setor. Foi, também, o centro nervoso das tensões que ocorreram naquele período em função dos vários problemas de ajustamento técnico que surgiram com a inauguração de uma nova seção de prensagem de ladrilhos, um novo forno contínuo ou forno túnel para queima dos materiais e uma nova seção de escolha e embalagem”, conforme Martins.

Continua, “O meu trabalho era, justamente, o de fazer coisas pelas quais eu não fosse notado: limpar as mesas e os objetos a cada certo tempo, durante o dia, para remover o pó fino que caía permanentemente sobre tudo e sobre todos; servir café aos engenheiros e aos mestres que por ali passavam entregar documentos nas seções e nos escritórios, levar recados, chamar pessoas. Todas essas atividades eram completamente irrelevantes para as funções essenciais do escritório da Divisão de Terra Cota”.

Martins na sua experiência pessoal destaca que sua função é irrelevante e diz A fala do engenheiro e do mestre me mostraram que eu pertencia ao grupo de adolescentes que por suas atividades eram pessoas insignificantes no conjunto das relações sociais da empresa. Mas, um insignificante substantivo. Refiro-me aos adolescentes que faziam serviços auxiliares nos pequenos escritórios do interior da fábrica, fora das grandes seções”.
Queremos desde já destacar as relações de trabalho até porque esse artigo é cativante, pois tem uma linguagem romântica que nos prende de forma bem natural e não queremos perder aqui o foco dessa atividade, portanto Martins aponta agora a função dele e de outros adolescentes e as relações que tinham nessa fábrica quando diz, Os adolescentes, como eu, podiam ver tudo porque eram funcionalmente invisíveis aos muitos olhos que disfarçadamente, como era necessário, vigiavam o que ocorria no interior da fábrica. Não só porque as pessoas de algum modo, segundo as concepções da época, tinham que estar sob vigilância para que não viessem a fazer aquilo que não estava prescrito em sua rotina de trabalho. Mas, também porque, como em qualquer fábrica, são muitos os perigos que ela encerra. Um pequeno descuido num canto de um setor secundário pode provocar um acidente ou desencadear um incêndio. Foi o que ocorreu na seção velha de prensagem de ladrilhos, quando uma distração do operário encarregado de fundir parafina e outros derivados de petróleo para limpeza dos estampos provocou um incêndio que poderia ter levado a uma grande destruição”.

Cremos que esse momento na vida de Martins não foi em vão até porque nesse momento de insignificância a qual ele supera lhe proporciona uma riqueza de detalhes para esclarecer o tema desse artigo, exercendo nesse momento de sua história uma habilidade de um sociólogo, portanto diz Martins A minha inserção insignificante e quase invisível no próprio centro de decisões do conjunto da Divisão de Terra Cota e a minha mobilidade no seu interior por vários anos puseram-me, de fato, sem que eu evidentemente o soubesse, na condição de um etnógrafo espontâneo. Minha memória registrou até mesmo as relações de parentesco que havia entre vários mestres e, também, as dificuldades que tinham para lidar com a cultura letrada e universitária dos engenheiros”.

Agora queremos discorrer em “Como o autor conjuga a interpretação subjetiva, isto é, o fato das mulheres terem visto a aparição de um demônio na fábrica, com a interpretação objetiva da realidade de trabalho na empresa, isto é, a introdução repentina de um novo ritmo de trabalho para as operárias de maneira brusca”.

Penso que conforme diz Martins “A minha suposição é a de que a aparição do demônio na seção de escolha da Cerâmica São Caetano, em 1956, explica-se pelas circunstâncias da transição que a fábrica estava sofrendo naquele período. Para os engenheiros e para a direção da empresa a adoção de critérios impessoais no relacionamento entre eles, os mestres e os operários era uma decorrência natural da modernização da empresa e uma necessidade derivada do novo e conseqüente padrão de racionalização do trabalho. As evidências que colhi, porém, e minhas próprias observações na época indicam que do lado dos mestres essas mudanças foram recebidas com preocupação e resistência. A aparição do demônio onde supostamente não houve qualquer mudança no processo de trabalho, a seção de escolha, foi expressão dos temores gerados pelo conservadorismo desses setores colocados à margem das inovações e/ou das decisões que levaram a elas. Foi a forma que o imaginário das operárias deu às inovações para compreendê-las no conflito que encerravam”.

Portanto Martins busca bases teóricas para demonstrar uma ação do capitalismo e o domínio sobre os operários nesse momento da história em que pesquisa com sua experiência pessoal, sua relação trabalhista “dentro” desse objeto de pesquisa que é a fábrica e agora, Essa diversidade de relações com o objeto de trabalho parece sugerir que ao longo do processo e nas diferentes seções havia diferentes modalidades do que Marx chama de sujeição do trabalho ao capital (e poderíamos falar, também, em diferentes graus dessa sujeição). Mas, penso que é possível mostrar que ao invés de diferentes modalidades de sujeição, estamos em face de diferentes formas sociais da sujeição especificamente capitalista do trabalho ao capital. Como é sabido, Marx distingue entre sujeição real e sujeição formal do trabalho ao capital (Marx, 1971, p. 54 ss.). Na sujeição formal, o artesão mantém os procedimentos artesanais e o saber que os sustentam. O capital compra a sua força de trabalho para se apossar do produto, sem se apossar, no entanto, do modo de fazer as coisas, isto é, do processo de trabalho. Seu domínio se limita, em princípio, ao processo de valorização, pois o que compra, nesse caso, é, antes de tudo, tempo de trabalho e não modo de trabalhar. A dominação do capital sobre o trabalho aparenta ser uma dominação externa (Marx, 1981, p.402). A alienação do trabalhador se dá estritamente em termos da alienação do seu trabalho. Mas, não alienação de sua consciência profissional, que permaneceria, assim, um contraponto crítico ao processo de trabalho capitalista”.
Com essas bases teóricas Martins enriquece ainda mais seu artigo, pois prova que o que ocorre na fábrica tem uma explicação, seria como se essa “subjetividade” fosse explicada com “objetividade”. Conforme Martins, digo em minhas palavras “estava havendo uma mudança radical naquela fábrica até porque seus funcionários principalmente os de chefia eram todos de parentes”, portanto conforme diz Martins, “A grande maioria dos operários da Cerâmica era constituída de migrantes da zona rural que chegaram ao subúrbio com a crise do café nos anos trinta, quando a cidade de São Paulo viveu um importante surto industrial. Nos próprios anos cinqüenta, houve um grande fluxo de migrantes rurais do Nordeste do país e de Minas Gerais rumo ao subúrbio. Nos trabalhos pesados das prensas e dos fornos era notória a presença de nordestinos. As moças das seções velhas, e novas de escolha de ladrilhos eram na maioria filhas desses migrantes, cuja vida nos chamado Bairro da Cerâmica e Vila São José, ao lado da fábrica estava impregnado de valores católicos tradicionais e rurais”.

Portanto Martins resgata algo interessante quando diz que, “Não surpreende, portanto, que um ingrediente desse imaginário, o demônio, emergisse no esvaziamento cultural promovido pelas transformações técnicas que a fábrica levara ao seu trabalho. Nesse sentido, foi alienada manifestação de resistência. Resistência a que e em nome de que? Há que considerar aí dois planos. De um lado, o do entendimento imediato que das mudanças podiam ter os trabalhadores, em particular as operárias da seção de escolha, na situação técnica e social em que trabalhavam. Mas, de outro, também, os acontecimentos, as pequenas conspirações e os pequenos boicotes cotidianos, sobretudo a aparição do demônio, sugerem uma resistência implícita além do imediato e do imediatamente perceptível: uma crítica na própria ação, como a denomina Lefebvre (1958, p.18), às transformações técnicas e sociais pelas quais a fábrica estava passando”.

No nosso modo de pensar aquelas mulheres que tinham consigo uma cultura religiosa e que já fazia parte do seu dia-a-dia práticas, tais como passar na igreja e fazer uma prece ou reza e depois se dirigir para a fábrica e até mesmo pelas as circunstâncias que as cercavam, tais como morarem próximo da fábrica, tendo um bairro onde seus moradores trabalhavam ali, a questão do parentesco e muitos ocupando cargo de liderança na fábrica que além de religiosos podiam influenciar através de seu “Status” aquelas mulheres para atingir seus propósitos até porque esses líderes não aceitavam as mudanças que naturalmente estavam surgindo, e havia uma discórdia entre os mestre e os engenheiros conforme destaca Martins, O que surpreende é a eficácia desse tradicionalismo rural invadindo a grande indústria e a produção moderna e nelas se recriando e se atualizando. A aparição do demônio tem sido até os dias de hoje freqüentemente mencionada em estudos sociológicos e antropológicos na América Latina. Inicialmente o demônio esteve associado ao ouro, o que claramente nos remete ao imaginário medieval e às concepções difundidas pelos missionários na época da Conquista. Depois foi associado ao dinheiro e eu mesmo encontrei imaginosas associações desse tipo entre camponeses da Amazônia no recente período de expansão capitalista naquela região. Na cultura popular do Nordeste do Brasil tal como é apreendida pela chamada literatura de cordel, o inferno é concebido como um depósito de mercadorias. O caso da aparição do demônio na Cerâmica revela que ele foi também associado aos meios capitalistas de produção, máquinas e instalações. À medida que a riqueza muda de forma, a expressão do mal, que é satanás, também migra de uma forma a outra”.

Pretendo encerrar essa atividade destacando, “Qual a importância destes dois aspectos a interpretação subjetiva e interpretação objetiva para a pesquisa sociológica”, e conforme Martins “... as contradições da riqueza, enquanto fruto do trabalho e instrumento de opressão do trabalhador, assumem uma figuração humana, no falso humano que é o demônio, na sua capacidade de assumir forma humana sem humano ser. Por meio dele, o invisível, que é a força impessoal do processo de trabalho capitalista, se torna visível. É por meio da figuração do poder do mal que essa força se permite ver e conhecer. O caso da Cerâmica indica que na cultura operária, de certa fase ao menos e na circunstância da coexistência de tempos distintos da história do trabalho, pelo atalho da aparição que revela a força do mal, o trabalhador toma consciência do duplo e contraditório caráter do trabalho: concreto e abstrato. Também toma consciência da força objetiva do trabalho social que se tornou uma força do capital. E da permanente coexistência dos opostos na produção, o que se vê e o que não se vê, mas é e está lá”.

Verificando ainda o artigo e lendo as notas que são sugeridas no texto conforme pontua Martins queremos destacar aqui que “Na análise do fetichismo da mercadoria, Marx já havia assinalado que ela “é um objeto endemoninhado, rico em sutilezas metafísicas e reticências teológicas”. E acrescentou: “O misterioso da forma mercantil consiste, simplesmente, em que a mesma reflete ante os homens o caráter social de seu próprio trabalho como caracteres objetivos inerentes aos produtos do trabalho, como propriedades sociais naturais de ditas coisas e, portanto, em que também reflete a relação social que medeia entre os produtores e o trabalho global, como uma relação social entre objetos, existente à margem dos produtores” (cf. Marx, 1982, p.87-88).

Portanto pensamos que esses aspectos “interpretação subjetiva” e “interpretação objetiva”, são importantes sim em uma pesquisa sociológica, haja vista que nossa sociedade é composta por pessoas que possuem sua bagagem cultura, suas crendices e como afirma Martins “A celebração e a oferenda das primícias da produção agrícola foi muito difundida, até a pouco, no Brasil rural. Em parte para evitar o mau-olhado, o caráter maligno do olhar invejoso. Em parte, para evitar que a produção fosse possuída pelas forças do mal e, conseqüentemente, o próprio trabalho fosse alcançado e mutilado pelo maligno (cf. Araújo, s/d, p.117-120). Ritos de benzimento de edifícios na inauguração de empresas eram muito difundidos na localidade, na época destas ocorrências. Mas, o que aconteceu na fábrica não se ligava propriamente ao ato inaugural de tipo urbano e sim à concepção agrária de que a riqueza criada pelo trabalho pode se insurgir contra o trabalhador, se não for simbolicamente oferecido às forças do bem, que se opõem ao mal e o exorcizam preventivamente”.

Os principais elementos e constitui o estudo sobre a reforma agrária na região de Araraquara‐SP




Conforme a professora Vera Lucia Silveira Botta Ferrante e, seu texto A REFORMA AGRÁRIA DIANTE DAS ESTRATÉGIAS DO AGRONEGÓCIO: O CASO DOS ASSENTAMENTOS DE ARARAQUARASP, BRASIL” , diz que “Acompanhar, por mais de duas décadas, a implantação e o desenvolvimento de numerosos núcleos de assentamentos de reforma agrária na região agrícola mais rica do Brasil, dominada pelo agronegócio da cana e da laranja, tem sido fascinante exercício sociológico.”, pensamos que: primeiro torna-se importante essa região pelo fato de ser um objeto de pesquisa do ponto de vista sociológico, porém percebemos que existem alguns pontos para exploração tais como: uma região agrícola “mais rica do Brasil”, outro seria que essa riqueza que é controlada pelo agronegócio.
Partindo desse prisma ela continua “Pode-se considerar quase um milagre que reivindicações de trabalhadores destituídos de terra, (e à época também de direitos trabalhistas), tenham conseguido estabelecer territórios de reforma agrária, em meio à “chama verde” de extensos canaviais”, pensamos que uma região “rica” como essa e dominada por coronéis dificilmente deixaria que houvesse outro tipo de trabalho nessa região que não estivesse sob seu controle.
Chama-nos atenção uma observação de Ferrante quando diz que, “Já nos anos 90, parte da nossa equipe de pesquisa, ligada a BOTTA FERRANTE, analisava lutas, ajustes, avanços, recuos e resistências, buscando conceitos novos que dessem conta dessa complexidade e chegando ao conceito de modos de vida, que tem sido fértil do ponto de vista analítico para compreensão desses novos atores sociais. Paralelamente, parte da equipe ligada a WHITAKER, aprofundava a observação, com base no conceito antropológico de cultura, tentando compreender os processos através dos quais sujeitos que sofreram dolorosas rupturas em suas trajetórias, tentavam reconstruir suas vidas, reunindo fragmentos culturais que lhes permitissem articularse dignamente ao sistema dominante. Por um lado, observavamse o passado e as rupturas e, por outro, a reconstrução e os modos de vida. Parte desse novo modo de vida implicou recuperar a mãe natureza: resgatar conhecimentos do passado, renovar tradições, estabelecer diversidades e heterogeneidades que garantam essa recuperação em terras desgastadas pela monocultura de eucaliptos, por exemplo – caso de alguns núcleos de terras públicas cedidas para assentamento na Fazenda Monte Alegre". (WHITAKER, 2003). Pensamos que com essa fala ela demonstra que já existia interesse em observar esse fenômeno de reforma agrária, debaixo das barbas dos coronéis.
Portanto conforme destaca a nossa amiga Chizlene, “Apartir da subjetividade nas relações sociais que desenvolveram o olhar antropológico, este trouxe os conflitos e as adaptações culturais que sofreram os assentados enquanto que sociologicamente foram impulsionados à modificações vista ao desenvolvimento do setor agro-industrial onde as tensões políticas e econômicas passam a definir um novo modelo de vida destes assentados”, FERRANTE diz que “Nossas pesquisas desvelaram um mundo de diversidade agrícola, alimentação abundante e farto excedente para comercialização, além de cultivos específicos. Cumpre lembrar, porém, que os assentamentos desta região são verdadeiros enclaves, em meio à “plantation” de canadeaçúcar, o que os fragiliza enormemente face ao poder econômico do agronegócio.Temos acompanhado a luta dos assentados que transformaram terras desgastadas em territórios de vida e trabalho, com significativas vantagens para recuperação ambiental”. Corroborando assim a fala de Chizlene.
Surge nesse cenário um interesse da classe dominante quando percebe que os assentados permanecem firmes diz Cida, referindo-se ao texto de FERRANTE “Mas, paralelamente, usinas de açúcar e álcool do entorno, investiram e, em diferentes momentos, conseguiram parcerias autorizadas pelos poderes competentes, inviabilizando algumas dessas conquistas. A presença constatada da cultura agroindustrial da canadeaçúcar nos assentamentos rurais expõe o futuro destas experiências de Reforma Agrária a controvérsias de natureza diversa, o que exige um olhar atento e crítico sobre esta trajetória”.
FERRANTE faz uma pergunta da seguinte forma, “Com a expansão da cana nos assentamentos, quais disposições criadas são capazes de possibilitar aos assentados tomarem as rédeas de suas vidas em suas próprias mãos, garantindo sua subsistência e ampliando suas perspectivas de renda, sem prejuízo das alternativas de participação, de inclusão e de organização social?”, pensamos que uma vez que esse assentamento foi cooptado pelo agronegócio enfraquecendo suas estruturas através dos meandros políticos a resistência dessa organização torna-se vulnerável porém a mesma organização tem uma possibilidade de continuar sua produção porém agora sob os olhares dos Agro-Industriais.
Encerramos com o último parágrafo desse texto quando FERRANTE diz, “Reiteramos, cabe a nós, investigadores, analisar alternativas e rumos dessas experiências de Reforma Agrária, os quais não podem ser discutidos sem ser passada em revista, em profundidade, a trama de tensões presentes nos paradoxos da integração do assentamento aos complexos agroindustriais e na difícil, mas possível, perspectiva de um modelo de desenvolvimento alternativo”, pensamos que os dominadores sempre querem estar subtraindo, e não querem somar e muito menos dividir, sempre querendo mais esse é o capitalismo apoiado na não reforma agrária.
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