A Última Ceia do artista italiano Leonardo da Vinci
A Páscoa é um período de
celebração muito importante para duas religiões: a judaica e a cristã. Para
ambas, significa uma época de reflexão e de alegria. Apesar de várias
coincidências numéricas e simbólicas, a motivação das duas festas é bem
diferente. O Pessach dos judeus celebra o fim da escravidão no Egito e seu
nascimento como povo. A Páscoa cristã celebra a ressurreição de Jesus Cristo. A Páscoa (palavra que deriva do hebraico
pessach – passar, saltar) celebra a ressurreição de Jesus Cristo, três dias
depois de ter morrido na cruz. É a principal e uma das mais antigas festas do
calendário cristão.
O dia de Páscoa é móvel – não tem
data fixa no calendário. Coincide sempre com o primeiro domingo após a primeira
Lua Cheia em seguida ao equinócio de março – a primeira Lua Cheia do outono.
A Páscoa judaica (Pessach)
O dia 15 de Nissan (primeiro mês
no calendário judaico) marca a libertação dos judeus do Egito. É a data de
formação do povo judeu, os 'Filhos de Israel', como diz a Bíblia. As
comemorações começam nesse dia, no final da tarde, quando os judeus se reúnem
na sinagoga para orações e depois realizam outra cerimônia em casa – a ceia do
Pessach.
A Páscoa cristã
Sua origem está relacionada ao dia 14 do mês
de Nissan do ano judaico de 2248 (cerca de 1300 a.C.). No nosso calendário
gregoriano, o mês de Nissan ocorre entre março e abril.
Essa data marca a fuga do povo
hebreu do Egito depois de 400 anos de escravidão. Liderados por Moisés, os
hebreus conseguiram sobreviver à décima praga em que todos os primogênitos
foram mortos por castigo de Deus. Eles haviam marcado o batente da porta de
suas casas com o sangue de um cordeiro imolado (sacrificado em ritual). Esse
era o sinal dado por Deus a Moisés para que o anjo da destruição passasse
(pessach) pela casa dos judeus sem lhes fazer mal. No dia 15 de Nissan, os
judeus estavam livres. A partir desse dia, todos os anos eles lembram a data de
sua libertação comemorando o Pessach.
Já no ano 34 d.C., no mesmo dia
15 do mês judaico de Nissan, quando todos os judeus celebravam mais um Pessach,
Jesus Cristo, morto na cruz três dias antes, ressuscitou. A partir desse dia,
todos os anos os cristãos lembram a data da ressurreição de Cristo comemorando
a Páscoa.
Quaresma
A comemoração da Páscoa, na
realidade, começa 40 dias antes do Domingo de Páscoa. Tradicionalmente, a
Quaresma é um período de penitência e purificação com orações e jejum, em
preparação para a celebração da ressurreição de Cristo. Essa tradição de passar
por um período de purificação está presente tanto na tradição judaica quanto na
cristã: o jejum foi realizado por Moisés, pelo profeta Elias e por Jesus
Cristo.
A Igreja Católica extinguiu em 1966 a exigência do jejum –
que só continua obrigatório na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa –,
mas continua incentivando a solidariedade com os pobres. No Brasil, desde 1964,
a Igreja promove na Quaresma a Campanha da Fraternidade, que pretende atacar um
problema social com a participação direta de toda a sociedade.
Até o século VII, a Quaresma começava no Domingo da
Quadragésima (quadragesima dies), o quadragésimo dia antes da Páscoa. Contando
com os domingos, durante os quais o jejum era interrompido, o número de dias
até a Páscoa era inferior a 40.
Para manter a fidelidade ao simbolismo do número 40 (como
afirma a Bíblia, 40 anos do povo judeu no deserto, 40 dias de jejum de Cristo),
a Igreja antecipou o começo da Quaresma para a quarta-feira anterior ao Domingo
da Quadragésima: Dia das Cinzas ou Quarta-Feira de Cinzas. Explica-se o porquê
das cinzas: os primeiros cristãos costumavam passar cinzas na cabeça em sinal
de humildade e respeito a Deus.
Semana Santa
A semana que precede a Páscoa cristã é chamada Semana Santa,
por ser a preparação mais próxima da maior comemoração do cristianismo. Ela
começa com o Domingo de Ramos e termina no Sábado de Aleluia, que antecede o
dia de Páscoa.
Domingo de Ramos – Os sacerdotes
benzem ramos de oliveira ou de palmeira e leem o texto evangélico da entrada
solene de Jesus em Jerusalém. Esse ramo bento é colocado em uma cruz em cada
lar ou sobre algum túmulo no cemitério. Simboliza a força da vida e a esperança
da ressurreição. Nesse dia, a Igreja convida os fiéis a contemplar os
padecimentos de Cristo em seu caminho para o calvário.
Ceia do Senhor – Na quinta-feira
seguinte ao Domingo de Ramos celebra-se a Ceia do Senhor, ou seja, a
instituição da missa com a tradicional cerimônia do Lava-Pés. Lê-se o relato da
Paixão e realizam-se as procissões da Via Sacra ou Caminho da Cruz, com suas 15
estações (outra coincidência numérica com o Seder do Pessach judeu, que tem 15
etapas). No final da cerimônia, oferece-se a comunhão eucarística.
Sexta- Feira Santa – Nesse dia,
também chamado Sexta-Feira da Paixão e Sexta-Feira Maior, ocorre à tarde a
Celebração da Palavra, que não é uma missa, mas um ritual litúrgico em que se
reflete sobre o significado da cruz, da dor e do sofrimento de Cristo pelos
seres humanos. É o único dia da Semana Santa em que o jejum continua obrigatório
para os cristãos.
Sábado de Aleluia – Ao meio-dia
desse sábado, em alguns países da Europa e da América Latina, costuma-se
'malhar o Judas', ou seja, bater em um boneco de pano que representa o apóstolo
traidor de Cristo, Judas Iscariotes, e depois queimá-lo. No mesmo sábado ocorre a Vigília Pascal, que começa com o acendimento e a bênção de uma fogueira ao
lado da igreja. O fogo representa a luz, a iluminação que Cristo traz ao mundo.
Depois, o círio pascoal (grande vela de cera) é aceso e levado em procissão
pelas ruas. Na volta à igreja, os fiéis passam pelo rito da água – elemento que
dá vida e renova todos os seres. A água é benzida e aspergida sobre a cabeça
dos presentes. Em seguida, ocorre a Proclamação da Aleluia, um canto bíblico de
alegria. É o anúncio da ressurreição de Cristo.
Domingo de Páscoa – No domingo, geralmente de manhã, as
igrejas cristãs celebram a missa de Páscoa, que marca a ressurreição de Cristo
três dias após a sua crucificação. Em várias cidades do Brasil são realizadas
procissões de fiéis e religiosos, pelas ruas atapetadas com serragem, sementes
e flores, formando motivos coloridos.
Ovos de Páscoa
Coelhos e ovos
pintados por húngaros: símbolos da Páscoa cristã
Em todo o mundo cristão costuma-se dar ovos de chocolate no
dia de Páscoa. Em alguns países do Leste europeu – Polônia, Ucrânia, Rússia,
Hungria e outros –, segue-se a tradição de pintar artisticamente os ovos de
várias aves, com motivos alegres e multicoloridos.
O ovo simboliza a vida que está a ponto de surgir, a
ressurreição do que estava morto e o eterno ciclo de vida e morte no universo.
A tradição medieval proibia o povo de comer carne vermelha,
doces e ovos na Quaresma. Os ovos de Páscoa são, portanto, também um símbolo
festivo do final da quarentena de regime.
Os ovos ganharam tanta importância que a eles foram
atribuídos poderes especiais. Eram tomados ovos que foram postos durante a
Semana Santa, especialmente os da Sexta-Feira da Paixão, pois se acreditava que
protegiam contra febres malignas ou pestes mortíferas.
A Igreja Católica, porém, afirma que os ovos não têm nenhuma
relação com os acontecimentos da vida de Cristo, nem com a celebração da
Páscoa, sejam eles de galinha, sejam de chocolate.
Os coelhos
Os coelhos são outro símbolo constante da Páscoa cristã.
Representam a fecundidade, a exuberância e a reprodução da vida, pois são muito
férteis. Símbolos de vida e vigor, o coelho e o ovo acabaram se confundindo, a
ponto de se achar que os coelhos botam ovos.
Tradição e comércio
A Páscoa começou a perder o caráter eminentemente religioso
há cerca de dois séculos, com o avanço do capitalismo e o crescimento da
importância do comércio na sociedade ocidental. Hoje, nas cidades que mantêm a
tradição religiosa, a Páscoa é um grande festejo popular e, principalmente nas
grandes cidades, mais um bom motivo para as famílias se reunirem. E comprarem
para a criançada, quase como obrigação, os ovos de chocolate.
Os ovos em embalagens finas tornaram-se muito mais uma
guloseima do que um símbolo tradicional da continuidade e do ciclo da vida,
como é o ovo de verdade para os judeus no Pessach.
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